Colchester, 24 de Março de 1950.
Querido Phillip,
Escrevo na esperança de que estas palavras lhe cheguem às mãos em breve e levem algum alento ao teu coração ferido. Só eu sei o quanto a tua companhia agradável me faz falta. Eu estou bem, cuidando sozinha de mim mesma, como é a minha sina. Às vezes me pego pensando que talvez tenha me casado com o homem errado. Depois de tudo o que passei, descobri quem eu realmente amo.É com muito pesar que informo que Vicent me proibiu de manter contatos com você. Mesmo assim, estou escrevendo (enquanto estou sozinha em casa), pois lhe tenho em grande estima. Que Vicent não fique sabendo – Deus nos livre! –, ele tem se tornado muito violento nos últimos tempos. Já chegou, inclusive, a levantar a mão contra mim. E também me proibiu de sair de casa. Acho que ele já não está em seu juízo perfeito.Quanto a você, querido Phill, torno a dizer que sinto saudades. Encontro-te em meus sonhos e em minhas lembranças, apenas. Mas não é suficiente: estou indo para Londres. Peço perdão por todos os sofrimentos passados que lhe causei. E espero que me receba com o mesmo amor que me dedicavas antes, pois já não posso mais viver sob o mesmo teto que um homem que odeia a si mesmo e a mim. Eu não amo Vicent. Amo você.Nos veremos em breve, meu verdadeiro amado. Estou indo ao teu encontro.Sinceramente,Dorota
Quando Phillip se mudou do antigo casarão dos Mason, escreveu-me
contando o novo endereço. É claro que eu jamais contei para meu marido, por não
querer alimentar desconfianças a meu respeito. E também nunca respondi as suas
tentativas de me seduzir, pois esperava o momento certo. E esse momento tinha
chegado. Eu precisava garantir o meu futuro: de uma maneira, ou de outra.
Saí pelas ruas da vizinhança sombria, carregando duas mentiras dentro
de dois envelopes. Era melhor que eu levasse as cartas – uma para Vicent e
outra para Phillip – diretamente à Central dos Correios, o que garantiria que
ambas chegariam a tempo. O carteiro só passava pela Rua Paraíso uma única vez
por semana, levando e trazendo todas as correspondências, porque ninguém se
atrevia a andar por aquelas vielas e becos escuros quando era possível evitar.
– Quando as cartas chegam a Londres, senhor? – perguntei ao velhinho
simpático da Central dos Correios de Colchester, depois de tê-las despachado.
– Com um pouco de sorte – respondeu-me sorrindo –, hoje pela tarde,
senhora.
– Obrigada, senhor.
Saí de volta para as ruas do centro da cidade, que estava abarrotado
de pessoas. Era dia de feira livre e a manhã estava bonita. Os homens
ajuntavam-se em grupos para falar de política ou esportes enquanto fumavam seus
cigarros. As mulheres da alta sociedade desfilavam seus vestidos de luxo e
chapéus bonitos, escondendo-se do sol embaixo de suas sombrinhas adornadas de
renda fina.
Sentei-me num banco qualquer da praça, e me imaginei no lugar delas,
gastando dinheiro com viagens, jóias e salões de beleza. Poderia me acostumar
com esse tipo de vida facilmente. E, se tudo corresse como o esperado, eu seria
uma dama de verdade em muito breve.
Voltei para casa com a certeza de que nada poderia dar errado. E, no
dia seguinte, às seis da tarde, eu estava embarcando sozinha num trem para
Londres. Eu iria ao encontro de um homem que me faria rica; e cabia somente ao
destino escolher quem seria esse homem.
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